Malone Rodrigues, responsável pelo projeto Meditação e Cultivo da Interioridade da PUCRS, explica o que é concentração e sugere formas de melhorar essa habilidade
Quando conversamos sobre concentração, é importante compreender o que é a atenção. Segundo o psicólogo Robert J. Sternberg, ela pode ser definida como “o fenômeno pelo qual processamos ativamente uma quantidade limitada de informações do enorme montante disponível através de nossos sentidos, de nossas memórias armazenadas e de outros processos cognitivos”. Desse modo, podemos dizer que concentração é a capacidade de conduzir nossa atenção de maneira a focar em um único ponto, pensamento ou ação. Esse estado de concentração foi estudado por Mihaly Csikszentmihalyi, que criou o termo “flow” para designar o estado de absoluta concentração que atingimos quando fazemos algo que gostamos. Em seu estudo, ele analisou pintores enquanto pincelavam suas obras.
No entanto, segundo algumas estimativas, nosso cérebro recebe cinco vezes mais informações por dia do que há 40 anos atrás. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em seu livro A Sociedade do cansaço, propõe uma reflexão sobre o retrocesso da nossa espécie à ideia de “multiatenção”. Para ele, estamos retrocedendo ao nosso estado selvagem, pois são os animais que precisam estar sempre em alerta, dividindo sua atenção entre a busca do alimento e a sobrevivência. Hoje, sabemos que a tal habilidade chamada de “multitarefa” não é eficaz para o ser humano.
Mas o que fazer para poder focar efetivamente em algo? Confira essas cinco dicas preparadas pelo filósofo Malone Rodrigues, líder do projeto de meditação do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS, para ajudar no cultivo da sua concentração.
Inspire-se em Sherlock Holmes
O maior detetive fictício do mundo é alguém que conhece o valor da concentração, e pode ser objeto de inspiração. Nas histórias escritas pelo autor Arthur Ignatius Conan Doyle, podemos perceber que quando um novo caso é apresentado, Holmes não faz nada mais do que se sentar em sua cadeira de couro, fechar os olhos e unir as mãos em uma atitude de quietude e silêncio. Ele se transforma no detetive mais inativo e ativo que existe. Podemos chamar esta atitude de centramento. Concentrar é trazer para o centro da nossa mente aquilo que estamos fazendo e pensando.
Preste atenção no que está fazendo.
Vamos lá! Até chegar nesta linha, sua atenção foi capturada quantas vezes? Pensamentos, mensagens no celular, algum barulho na sua casa, uma notificação… Calma! Estamos habituados a fazer as coisas de forma mecânica e ao mesmo tempo receber inúmeros estímulos externos. Sabemos que nosso cérebro tem a capacidade de aprender novos comportamentos. Então, cultive sua atenção no que está fazendo agora!
Treine seu cérebro
Seu cérebro é como seus músculos: precisa ser treinado. Estimule sua mente com jogos. Palavras cruzadas, xadrez, quebra-cabeças e jogos de memória são ótimos aliados. Algumas sugestões de jogos online gratuitos com o objetivo de treinar a mente são os do site CogniFit.
Elimine distrações
Não é possível encontrar uma solução “para ontem”, nada na vida funciona em um estalar de dedos. Tudo exige processo, calma e tempo. No entanto, você pode colaborar com sua atenção. Retire as distrações: desligue o celular (ou o coloque no modo avião) e desative as notificações. Lembre-se da dica 2! Quando for fazer algo, foque nisso. Esqueça o mundo externo e, quando se distrair, escolha voltar para a atividade que está executando.
Uma maneira muito legal de fazer isso é o método Pomodoro. A Técnica Pomodoro é um método de gerenciamento de tempo desenvolvido por Francesco Cirillo no final dos anos 1980, ela consiste em utilizar um cronômetro para dividir o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos. Isso ajuda você a focar sua atenção.
Pratique a meditação
Primeiro precisamos entender que a meditação é sim uma prática presente em várias tradições religiosas. No entanto, ela vem sendo utilizada de maneira laica, com o objetivo de cultivar a atenção e promover bem-estar. Embora as práticas tenham sua origem nas antigas tradições religiosas como o cristianismo, budismo e tantas outras, quando se trata de psicologia experimental, a prática da meditação tem menos a ver com espiritualidade e mais com o cultivo da concentração, ou seja, está relacionada com a capacidade de aquietar a mente, focar a atenção no presente e afastar qualquer distração.
Já em 1970, a psicóloga e professora de Harvard Ellen Langer demonstrou que o pensamento consciente pode levar a melhorias nas funções cognitivas e até mesmo nas funções vitais em adultos e idosos. Hoje, existe uma infinidade de pesquisas científicas que abordam os benefícios da meditação nos estados de consciência e concentração. Mesmo que em pequenas doses, a meditação pode colaborar com mudanças impressionantes.
Em 2020, pesquisadores da Universidade de Hokkaido, no Japão, publicaram um estudo na revista Social Cognitive and Affective Neuroscience, no qual demonstravam que a meditação pode mudar a atividade cerebral, modificando de maneira positiva a atividade neural e a atenção. O estudo envolveu 49 participantes saudáveis, todos eram estudantes universitários que não conheciam a meditação.
Divididos em dois grupos, um recebeu um treinamento de oito semanas de meditação, e o outro apenas participava de momentos em que escutava músicas clássicas. Ao analisar os participantes que meditaram, os pesquisadores descobriram evidências da eficácia da meditação e de como ela afeta de maneira positiva a atividade cerebral e o desempenho cognitivo. Então, busque meditar!
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